Conselhos para quem quer começar a escrever

Transcrição do vídeo do youtube

Olá a todas, todos e todes. Esse vídeo aqui é a apresentação da minha oficina de escrita criativa! Eu sou Milla Gama, sou escritora e facilitadora de oficina de escrita criativa. Estou muito feliz em trazer para vocês um pouco sobre a criatividade através das palavras. Então nesse vídeo eu vou dar alguns conselhos para você que esta iniciando sua vida na escrita e tambem falar um pouquinho sobre minha nova oficina.

Para começar, quero te fazer uma pergunta : quando foi a última vez que você se permitiu deixar a imaginação fluir de forma consciente? Andar pelas ruas, olhar as pessoas e ficar inventando histórias de vidas sobre elas, por exemplo? Eu costumo fazer isso, pensar, quem foi aqui que já enterrou um filho, quem foi que perdeu o emprego, quem foi que foi promovido. Parece loucura, mas é um exercício interessante, eu olho o rosto das pessoas e invento uma história para elas e essas pessoas não fazem a mínima ideia da loucura que se passa dentro da minha cabeça. Assim como visitar cemitérios. Eu amo visitar cemitérios, olhar os nomes e datas nas lápides e a partir dali inventar histórias sobre aquelas pessoas. Eu nem escrevo essas histórias, eu só penso mesmo.

A escrita criativa é um lugar sem fronteiras, onde cada palavra é uma porta que se abre para novos mundos, novas histórias e novas possibilidades. É uma forma de expressão que nos permite dar vida aos nossos sonhos, explorar nossas emoções, algumas desconhecidas inclusive, e compartilhar nossas experiências de uma maneira única e pessoal. Freud compara o escritores com a criança que brinca, a escrita se compara com devaneio. Em alemão, devaneio de chama Tagesträume, na tradução literal seria algo como sonhos durante o dia. Escritores transformam os devaneios que fariam qualquer pessoa morrer de vergonha, em um devaneio para ser devaneiado junto com outros, assim como a brincadeira infantil pode ser compartilhada entre as crianças através de um esquema psíquico compartilhável. Esse é um dos textos sobre a escrita que eu mais amei ler e tem vídeo aqui no canal sobre ele. Além disso, na oficina de escrita que começa em maio, vamos ler e falar sobre ele também.

Mas sei que para muitos de vocês, encontrar tempo e força para escrever pode parecer um desafio. Entre as demandas do dia a dia e no caso das mulheres, os afazeres domésticos, o trabalho e o cuidado com a família, esse trabalho nao pago e exaustante,  é fácil colocar nossas aspirações criativas em segundo plano.

No entanto, quero desafiar essa ideia hoje. A escrita criativa não exige horas intermináveis de solidão ou um talento extraordinário. Ela está ao alcance de todos nós, em qualquer momento e em qualquer lugar. Tudo o que é necessário é um pouco de coragem para dar o primeiro passo e a disposição de deixar a imaginação voar. Aos poucos a gente cria a tal da rotina de escrita. As pessoas têm medo dessa expressão, e sinceramente, eu não gosto dela. Por isso, ao invés de falar de rotina eu prefiro falar em ciclo. Para mim a escrita se apresenta em diferentes ciclos que eu vou conectando um num outro formando uma corrente de ideias, de pensamentos, de acontecimentos e de personagens…

Durante esta aula, vamos explorar juntas algumas técnicas simples e eficazes para liberar sua criatividade, encontrar inspiração em sua própria vida e começar a transformar suas ideias em histórias cativantes. Não se trata apenas de aprender a escrever, mas de redescobrir a alegria de se expressar, de se conectar consigo mesma e com o mundo ao seu redor através das palavras.

Então, vamos mergulhar de cabeça rumo à descoberta da sua voz criativa. Lembre-se, não há regras aqui, apenas impulsos, considerações e a sua verdade, sua autenticidade e sua capacidade de criar algo significativo.

No fim  desse vídeo eu vou deixar um exercício para você. quem quiser, pode me mandar o texto criado para meu email: millasgama@gmail.com

Estou animada para ler os textos que vocês vão criar. Vamos começar!

Não tenho tempo!

Você quer escrever. Há algo pulsando aí dentro de você e quer sair, mas você não sabe porque, nem como, nem quando vai poder simplesmente parir isso. Ïsso” talvez nem seja uma ideia, talvez seja apenas uma inquietação, um desejo de pôr um algo para fora. Mas parece que nada conspira a favor. Não sobra tempo. E quando sobra, o cansaço não permite. E agora?

Eu sou mãe de duas crianças ainda pequenas e eu entendo muito o fator falta de tempo. Por enquanto eu ainda dedico todo meu tempo disponível quando as crianças não estão em casa para a escrita e as oficinas. Mas minha realidade logo vai mudar pois vou começar a trabalhar fora e isso me preocupa um pouco. Por isso eu entendo muito principalmente as mulheres que não conseguem tirar um tempo para a escrita apesar de gostarem de escrever.

 Eu não vou dizer para você que se eu consigo você consegue, pois nossas realidades são provavelmente bem diferentes. Eu não vou dizer para você que eu tenho a fórmula mágica de esticar o seu tempo para que você possa escrever porque eu estaria mentindo para você. Antes de te dar algumas dicas, eu preciso te dizer: eu te entendo. Eu passei uns três anos desde a gestação da minha primeira filha sem conseguir ler muita coisa para além de temas voltados para maternidade. Foi em 2019, quando meu segundo filho tinha alguns meses de vida, que eu fui retornando mais assiduamente a outras leituras. E foi nesse período também que eu voltei a escrever. Foi um processo longo. Meu filho, apesar de ser bebê, dormia muito bem à noite. Então uma das primeiras coisas que eu tentei fazer, foi levantar mais cedo que todo mundo. Como as crianças acordavam por volta de umas seis da manhã, eu comecei a levantar às cinco. Funcionou por uns dias, até o bebê perceber que eu estava levantando nesse horário e começar a levantar cedo também. Veio frustração, veio tristeza. Aquele desejo gigante de voltar a fazer algo que sempre amei e sempre precisei em contraste com uma situação que me limitava. E aqui não falo da criança, mas da situação mesmo. Sem rede de apoio, sem família por perto, sem ter quem olhasse as crianças um pouquinho durante o dia para que eu pudesse trabalhar, ou pelo menos descansar. Como é possível dentro de uma sociedade individualista e que deixa mães e crianças tão sozinhas, uma mulher ainda ousar a querer fazer algo por ela, para ela, ou correr atrás de seus sonhos?

Então não tem para onde correr, Camilla? Não é possível querer tentar apesar de tudo? Calma. Dependendo de como você estiver emocionalmente, fisicamente, é possível sim escrever apesar de tudo.

Mas aqui vem o pulo do gato: Você tem que querer, querer mesmo. Se você olha para você e diz: é isso que eu quero — Entao a gente vai para um próximo questionamento: Escrever o que? Pois dentro dessa realidade, se concentrar num projeto que exija muito de você é complicado.

Em 2020 eu me desafiei a escrever pelo menos um poema curto por dia. Depois de quase um ano postando poeminhas curtos diariamente, eu peguei tudo que havia escrito, editei, reformulei e publiquei no Amazon Kindle o livro: “Feliz por um triz”. Coincidiu de eu começar a escrever esses poemas justamente pouco antes da pandemia. Dessa forma , durante toda a pandemia, eu tive a escrita como um válvula de escape, algo que me salvou da insanidade do momento. E como eu consegui fazer isso? Eu escrevia pelo celular. Escrevia enquanto amamentava o bebê e o colocava para dormir. Eu fazia gravações de áudio quando surgiam ideias e eu não podia parar para escrever. Fui dessa forma montando um acervo de frases, textos e poemas.

Um dos poemas que eu mais gosto deste livro foi escrito em forma primeiro de áudio. Isso mesmo! Escrever em áudio, experimente.

O poema é esse:

Assim que o dia começa

Ela se apressa

Como se houvesse

mais que amanhã

A moça morde mais que uma maçã 

Numa correria

Se faz seu dia a dia

Até chegar o dia

Em que não há mais dia

Mas talvez você não goste de poesias, poemas. Uma ideia é escrever frases,  poucos parágrafos. Quando eu estou emocionalmente esgotada ou vivenciando situações difíceis, me surpreende a maneira como meu cérebro fica criativo, a quantidade de frases interessantes que surgem enquanto eu faço meu processo de autoanálise é muito maior do que usando estou bem. Eu então me agarro nessa “vantagem” apesar dos pesares e anoto esses insights.

Existem algumas mulheres que me inspiram e me fortalecem. Pensar nelas me ajuda a encontrar força e tempo para a escrita. A primeira é a Carolina Maria de Jesus. Ler Quarto de Despejo fez com que eu pudesse enxergar meus próprios privilégios, mesmo dentro de uma realidade que parece sufocante. A realidade onde Carolina viveu não deveria existir. Mas existia e segue existindo. E ver essa mulher semianalfabeta, tão pobre, catadora de papel, perseguindo seu sonho com tanto afinco, isso chega a fazer com que eu me envergonhe quando bate um desânimo, medo, insegurança. A própria Conceição Evaristo é outro exemplo de força e persistência. Fez magistério, foi faxineira, empregada doméstica, professora infantil e aos 40 anos entrou para a universidade  pra cursar literatura.Também me inspira a história da Isabel Allende. Com Pinochet assumindo o poder no Chile, Isabel se refugiou na Venezuela, atravessou os Andes andando. Ela que tinha mestrado, que havia morando na França com o marido diplomata, chegou na Venezuela com filhos pequenos, cuidava deles durante o dia, foi trabalhar de garçonete em restaurante à noite e escrevia nas madrugadas seu primeiro livro: A casa dos espíritos. 

Eu não consigo ter a privação de sono que ela teve por tanto tempo, tambem nao tenho a força e a potência de Carolina e Conceição. Mas eu me inspiro nas historias delas para, dentro da minha realidade, fazer o melhor que eu possa fazer. Se eu nao consigo me privar do sono, eu consigo pelo menos minuciar bastante meu tempo em redes sociais e em outras mídias tambem. 

Eu priorizo a leitura, priorizo a escrita em todo tempo livre que me aparece.

Espero que ao compartilhar isso aqui com vocês, essas historias as inspire também.

O medo da página em branco

Muita gente me fala sobre o bloqueio em frente a um papel em branco e uma caneta. Ou uma página em branco num editor de textos. Se você realmente não tem o hábito de escrever, é bem provável que quando você queira começar, esse bloqueio venha. Eu tenho umas dicas para você aqui. 

  1. Pegue uma caneta e um papel. Respire fundo, como para uma meditação. Sabe quando você medita e vem muitas pensamentos na sua mente? Então, você vai começar a anotar coisas. Escreva toda e qualquer palavra ou frase que lhe vier à mente. Toda imagem, traduza em textos, não se importe caso fique tudo muito desconexo. A partir dessa combinação de palavras, você pode criar um texto, excluir elementos, adicionar outros e pronto.
  2. Participe de uma oficina de escrita criativa. Você vai receber insights interessantes, proposta de tarefas, vai entrar em contato com outras pessoas que também tem interesse na escrita, vai entrar em contato com outros textos também. Uma oficina é esse local de troca que vai enriquecer  ampliar seu repertório.
  3. Para quem já escreve e está com bloqueio em algum momento da narrativa, vale analisar onde está o problema dentro do texto. Seria o personagem, a ação, a ambientação? Muitas vezes um bloqueio expõe a necessidade de alguma mudança no texto. O ideal nesse caso é procurar ajuda, uma mentoria, ter alguém que olhe o texto com uma perspectiva diferente.

Mostre, não conte!

Existe algo que é quase um senso comum na escrita criativa que vem lá da Grécia antiga, de um livrinho chamado A Arte poética, de ninguém mais e ninguém menos do que Aristóteles. Ele fala sobre a importância da ação dentro de uma narrativa. Para Aristóteles, inclusive, os personagens são importantes, mas mais importantes que eles é a ação. Hemingway transformou isso em show, don’t tell: mostre, não conte. A ideia aqui é, através das ações dos personagens, você mostre o que quer contar sobre ele. Ao invés de falar: “Ela era uma moça bondosa”, você apresenta a personagem fazendo algo que mostre essa bondade, como por exemplo “ Todos os sábados ela levantava às cinco da manhã e saia ainda no escuro para distribuir pães entre os moradores de rua”. Muita gente acha que isso é uma regra da escrita, geralmente acompanhada da regra de não usar adjetivos e advérbios. Mas não se trata de regras, simplesmente, dependendo da sua intenção no texto, enxugar os advérbios e deixar a história se manifestar a partir de ações, a deixa mais dinâmica.

Leia livros, leia pessoas, leia o mundo

Eu não cresci em uma casa cheia de livros para serem referência na minha escrita. Mas isso não significa que eu tenha crescido distante de histórias. Desde pequena eu sabia da história do primeiro bebê da minha avó: Nasceu sem osso no corpo, só a cabeça. Minha bisavó era parteira, e foi ela quem fez o partos própria filha. Meu avô subiu em cima da barriga da minha avó para que o bebê conseguisse sair. Viveu umas meia hora. Essa é uma história. Meu avô amava contar histórias da vizinhança, mas também da Bíblia. Minha mãe me notava sua infância na roça com detalhes. Histórias nunca me faltaram. Minha amiga esses dias estava falado comigo sobre essa cobrança que existe de que temos que ler tanto para escrever. E às vezes enfiamos tanto a cabeça nos livros que deixamos de ler as pessoas e as histórias que acontecem ao nosso redor. Sobra Shakespeare, mas falta Sebastiana, João, Juliana, Pedro. É importante sim ler livros, ler clássicos, ler contemporâneos. Mas é importante também ler a vida. A escrevivência de Conceição Evaristo fala da escrita de nós, a escrita de pessoas que vêm da base da pirâmide social, a escrita de mulheres negras. Essa escrita acontece por pessoas que muitas vezes não tiveram acesso aos livros de papel na infância, mas a quem não faltou histórias durante a vida, sejam elas vivenciadas por nós mesmas, ou por nossas observações sobre o que nos cerca, ou ainda vivências de outras pessoas que chegam ate nos.

Desenvolvendo estilos

Muitas pessoas confundem estilo com uma linguagem rebuscada ou com uma identidade de um escritor que não muda. Há escritores que odeiam a ideia de terem um estilo próprio e que mesmo que tentassem se esconder em pseudônimos, seriam descobertos pelo estilo. Há escritores que tem orgulho do seu estilo. Mas como desenvolver estilo?

O estilo se desenvolve com tempo, com prática. Ele pode ser adaptável a cada livro, ou pode ser uma marca registrada do autor por sua maneira única de escrita que dentro do texto faz sentido. Saramago por exemplo praticamente nao usava pontos, só vírgulas. Hemingway perseguia um estilo de escrita mais direto e com menos figuras de linguagem possível. Mia Couto tem sua escrita totalmente baseada na prosa poética com o uso de muitas figuras de linguagem ao longo de todo seu texto. No meu estilo, eu trabalho muito mais com a s figuras de linguagem sintáticas do que com as semânticas. Então, se você me diz que tem pouco tempo para ler e escrever, a dica que eu dou para você é: estude as figuras de linguagem. Quem fizer minha oficina vai receber um ebook incrível de figuras de linguagem incluindo as mais importantes de cada categoria, o propósito delas, ideias para aplicá-las ao texto e exemplos. Esse material foi criado originalmente para meu uso pessoal e eu decidi organizá-lo e dividir com as participantes da oficina. Assim vocês não perdem tempo (falando em tempo, né?) pesquisando na internet, peneirando informações. No ebook está tudo mastigadinho para vocês.

Gêneros literários

Lá no começo do vídeo eu falei sobre escrever poemas. mas tem pessoas que nao gostam de poesias. Quando a gente apenas está nessa busca por um fluxo de escrita, a gente pode começar com frases, anotar ideias, fazer pequenos textos como se fossem posts para uma rede social (talvez até mesmo numa rede social ou em um blog). Porém, com o passar do tempo, isso não vai ser mais suficiente. Você precisa dar alguma forma mais explicita ao seu texto. Por isso é importante conhecer as diferenças básicas de um tipo de narrativa para outra. O que diferencia um romance, de uma novela, ou de um conto? O que podemos considerar poesia? E a crônica? Entender as fronteiras entre cada um desses gêneros é uma base para você saber com qual você melhor trabalha e ainda brincar com suas fronteiras, formas e estruturas. Na oficina vamos ter um mês de estudos dedicado aos gêneros literários. Vocês vão receber um material inédito, mastigadinho com esses principais gêneros literários.

Mas e os personagens?

É importante conhecer os gêneros literários até mesmo para entender que tipo de personagem cada um deles exige. A construção de personagens principais de um romance é geralmente diferente da construção do personagem do conto. Na poesia nós temos o eu lírico, então esse já é um primeiro ponto que te ajuda a direcionar a construção dos personagens.

Existem dois tipos básicos de personagens: 

O personagem plano ou unidimensional, e o personagem redondo, esférico ou multidimensional. 

Resumidamente o personagem plano, não tem muita complexidade nem muitas camadas na sua personalidade. O personagem redondo já éais complexo, temmais camadas.


Na oficina nos ainda vamos falar sobre As questões de autores e leitores, vou trazer um pouco da escrevivência da Conceição Evaristo, alem de textos do Barthes, do Foucault, o freud etc. Na verdade esses são alguns nomes da teoria literária que eu vou trazer para vocês sempre com enfoque na produção textual pratica, para a gente se observar como autores no mundo de uma forma mais consciente.

A gente vai ainda, trabalhar com o ponto de vista da narração, construção de diálogos envolventes, criar inícios que despertem o interesse do leitor. Inclusive aqui eu quero destacar que quando você está começando o processo de escrita, você não precisa se preocupar em escrever um começo incrível,ou algo genial. A escrita é rescrita. Antes de você ter um livro em mãos para ler, ele com certeza foi reescrito, editado, transformado várias vezes ate chegar naquela forma final que você compra na livraria. Na oficina eu quero ajudar vocês nesse processo, de se reconhecerem escritores, de escreverem e reescreverem até verem um texto tomando forma.

Abaixo eu deixo uma tarefa de escrita para vocês!

A Relação entre Devaneio e Criatividade na Perspectiva de Freud

Esse Post faz parte de um video no youtube sobre o texto de Freud, O poeta e o fantasiar que você pode assistir aqui.

Neste ensaio, exploramos a análise de Freud sobre a relação entre o trabalho criativo do autor e o devaneio, destacando suas semelhanças e implicações para a compreensão da mente humana e da produção artística.

Freud compara o trabalho criativo do autor ao devaneio, sugerindo que ambos são uma continuação e uma substituição do jogo infantil. Ele destaca que tanto a poesia quanto o jogo infantil envolvem uma clara separação da realidade e uma intensa carga afetiva simultânea. Enquanto os adultos podem não brincar mais, encontram prazer em seus devaneios, onde fantasiam a realização de desejos não satisfeitos, muitas vezes ambiciosos e eróticos. Freud identifica nos sonhos noturnos e no trabalho poético equivalentes à atividade fantasiosa no devaneio, destacando a influência das experiências infantis na formação dessas fantasias.

  • Freud argumenta que tanto no devaneio quanto na poesia, elementos do estímulo atual e da memória infantil são visíveis.
  • Embora em algumas obras de arte a característica de devaneio possa não ser mais perceptível, elas ainda estão relacionadas a essa origem por meio de uma série de transformações.
  • Enquanto o devaneio tende a ser egoísta, afastando os outros, o autor, na poesia, supera essa barreira ao ocultar e modificar os aspectos socialmente inaceitáveis da fantasia.
  • Segundo Freud, a estética do texto proporciona um primeiro prazer, chamado de pré-prazer, permitindo à fantasia acesso à psique e liberando o prazer de camadas psíquicas mais profundas.

A análise de Freud inicialmente levou a uma visão patologizante de autores famosos, o que afastou a critica literária da psicanálise, mas ao longo do tempo, suas ideias foram desenvolvidas em uma teoria abrangente da criatividade artística. Embora inicialmente ignorada pela filologia alemã, a recepção dos conceitos psicanalíticos cresceu nas décadas seguintes, principalmente nos Estados Unidos, proporcionando uma nova compreensão da produção e recepção artísticas.

Conclusão:
A comparação entre devaneio e poesia oferece insights valiosos sobre os processos mentais por trás da criatividade artística. A perspectiva de Freud continua a influenciar a compreensão contemporânea da relação entre mente e arte, destacando a importância das experiências infantis na formação da imaginação criativa.

Para baixar o ensaio original de Freud, clique abaixo em baixar

5 estruturas básicas do conto em A Filosofia da Composição de Poe

Filosofia da Composição de Edgar Allan Poe e a estrutura do conto

Você já se perguntou como Edgar Allan Poe escreveu seus poemas e contos tão fascinantes e assustadores? Como ele conseguiu criar obras-primas da literatura gótica, como “O Corvo”, “O Gato Preto” e “A Queda da Casa de Usher”? Neste post, vamos explorar a filosofia da composição de Poe, um ensaio em que ele revela os seus segredos e métodos para produzir textos de alto impacto e qualidade. Vamos ver como ele usou a lógica, o planejamento e a unidade de efeito para criar histórias que cativam e emocionam os leitores até hoje. Acompanhe!

Continuar lendo “5 estruturas básicas do conto em A Filosofia da Composição de Poe”

Sobre o prólogo de “O Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell -parte um

Continuar lendo “Sobre o prólogo de “O Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell -parte um”

Resenha: O lado extraordinário de se perder

A resenha de hoje é de um livro lido em primeira mão pela pessoa que vos fala aqui: “O lado extraordinário de se perder!”. Eu fui convidada a ler o livro para escrever a orelha da capa da versão física publicada no Brasil.

Continuar lendo “Resenha: O lado extraordinário de se perder”

Ler como um autor: leitura crítica

Todo autor deve ter algo muito claro em mente: para ser um bom escritor é necessário ser um bom leitor. Você com certeza já deve ter ouvido uma frase assim. Mas o que isso significa? Vem comigo esclarecer este mistério.

Continuar lendo “Ler como um autor: leitura crítica”
Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora